Allyrio Hugueney de Mattos

Allyrio Carlos Hugueney de Mattos, engenheiro, astrônomo e professor, nasceu na cidade de Cuiabá (MT), em 29 de julho de 1889, filho de Joaquim Francisco de Mattos e de Eufrosina Hugueney de Mattos. Oriundo de família de projeção social – seu pai comerciante, nascido em Portugal e Cônsul Honorário deste País em Cuiabá e sua mãe natural da localidade de Raiz da Serra, Município de Magé (RJ) -, inicia ainda criança seus estudos em escola primária de sua cidade natal, todavia, ali não continuando pela rigidez dos métodos infligidos aos alunos que desagradam sua atenta mãe. É, então, enviado para estudar interno no colégio dos padres jesuítas, em São Leopoldo (RS), permanecendo durante 4 ou 5 anos. O falecimento de seu pai em 1904, no entanto, o faz retornar a Cuiabá, onde conclui o curso secundário (1907).

Ingressa, por marcada vocação, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro (1909), onde conclui o curso com raro brilhantismo (1913), obtendo a medalha Gomes Jardim pelo seu desempenho. Inteligência, rapidez de raciocínio e memória prodigiosa são atributos apontados pelos alunos ao Professor e Assistente Interino da Cadeira de Topografia (1915-1926, respectivamente) e, a seguir, Catedrático de Astronomia de Campo e Geodésia Elementar (1930), títulos conquistados por concursos na mesma Escola em que se formara engenheiro. Também por concurso, é admitido no Observatório Nacional como Astrônomo (1917), cargo que exerceu até 1938 quando, pela Constituição do Estado Novo teve que fazer opção, permanecendo no cargo de Catedrático da Escola Politécnica até sua aposentadoria, em 1957.

Personalidade marcante, sua capacidade de apreensão dos processos e equipamentos que a ciência e a tecnologia vinham pondo à disposição da humanidade permitiram-lhe destacar-se em várias atividades e empreendimentos, desde a construção civil, bem como aquelas em que detém conhecimento especializado como professor, e áreas correlatas ou não em que se aprofunda tais como a Cartografia, Aerofotogrametria, Geração e Distribuição de Energia Elétrica, Abastecimento de Água e Coleta de Esgoto e Radiotelefonia, demonstrando sempre habilidade em atividades de sua eleição.

Iniciador e principal articulador das pesquisas de campo, sua ação modernizadora o faz perceber que o aparecimento de equipamentos portáteis e precisos são determinantes para a implantação de novos métodos geodésicos de coordenadas geográficas e que forneceriam, mais adiante, suporte especializado nos projetos de desenvolvimento em regiões desprovidas de cobertura cartográfica.

Consultor técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, atuando no Conselho Nacional de Geografia desde 1939 - Assistente Coordenador de Cartografia, Subdiretor de Geodésia e Cartografia, e Diretor da Divisão de Cartografia -, colabora em todos os empreendimentos relativos à sua área de conhecimento levados a efeito pelo órgão. Em atendimento à Lei no 311/1938, que criara a obrigatoriedade de confecção de mapas municipais para a compilação da Carta do Brasil, torna-se orientador da Campanha das Coordenadas Geográficas organizada pelo CNG (1939). Cabe-lhe, pelo seu valor profissional e científico, não só suprir lacunas, imprecisões, mas determinar a localização das sedes municipais por suas coordenadas geográficas e, ainda, preparar engenheiros e operadores para atuarem no projeto, bem como escolher o sistema de representação cartográfica adequado à edição dos mapas.

Participa de reuniões, cursos e estágios nos Estados Unidos (1943, 1944 e 1948) a convite do governo americano, como representante do Brasil naquele país e, também, no México (1955), todos objeto de estudo, observação e valiosas apreciações para aplicação em sua cátedra e prática profissional no Brasil. Mesmo já aposentado do IBGE (1959) continuou em atividade como consultor de empresa conservando sua capacidade de atualizar-se ao participar de eventos na área de Fotogrametria, na Alemanha.

Durante sua vida profissional recebeu o Professor Allyrio de Mattos numerosas homenagens e mereceu diversos títulos honoríficos, destacando-se a comenda da Ordem La Rose Blanche, do Governo da Finlândia pelos relevantes serviços prestados durante o eclipse total do sol (1948), além de Sócio Honorário Fundador da Sociedade Brasileira de Cartografia (1963), de Professor Emérito da Universidade do Brasil (1948), entre outros de igual expressão.

Em reconhecimento ao cientista precursor da implantação de levantamentos geodésicos no Brasil o Conselho Nacional de Geografia, em 1972, perpetua sua memória prestando-lhe significativa homenagem em vida, ao denominar Base Allyrio de Mattos o marco norte de número 2250, situado em sua cidade natal, Cuiabá. Ao falecer, em 07 de janeiro de 1975, deixa importante contribuição para a evolução do pensamento cartográfico brasileiro.

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Fotos 

Produção intelectual

Astronomia

  • Catalogo de pares de estrellas para determinação da hora pelo methodo Zinger. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas, Inspectoria Federal de Obras Contra as Secas, 1925. 181 p. (Publicação n. 68, Série II, L).

Cartografia

  • As necessidades da cartografia brasileira. In: XI Congresso Brasileiro de Geografia, Porto Alegre, 1954. [s/d., 21 p., dat., cópia — Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, Arquivo Pessoal Allyrio Hugueney de Mattos (CAHM, PTCm, Cx.170, P.2, 3)]
  • Primeira Consulta Pan-Americana de Cartografia e Geografia. Boletim Geográfico, v.1, n.7, p.5-6, out. 1943.
  • Princípios gerais da cartografia. Revista Brasileira de Geografia, v.7, n.4, p.621-630, out./dez. 1945.
  • As necessidades da cartografia brasileira. In: XI Congresso Brasileiro de Geografia, Porto Alegre, 1954. [s/d., 21 p., dat., cópia — Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência, Arquivo Pessoal Allyrio Hugueney de Mattos (CAHM, PTCm, Cx.170, P.2, 3)]
  • Uma projeção conforme adequada ao Mapa Geral do Brasil. Revista Brasileira de Geografia, v.8, n.1, p.119-124, jan./mar. 1946.

Geodésia

  • Aula inaugural do Curso Técnico de Geodésia. Cadernos de Geociências, n. 2, p. 75-80, ago. 1989.
  • Ajustamento preliminar de uma rêde de nivelamento. Rio de Janeiro: IBGE, 1948. 29 p.
  • Determinação da altitude do Pico da Bandeira na Serra do Caparaó. Revista Brasileira de Geografia, v.5, n.4, p.551-558, out./dez. 1943.
  • Determinação do azimute pela observação de sigma octantis. Rio de Janeiro: IBGE, 1948. 29 p. (Publicação n.3, série C, Manuais).
  • Notas sôbre nivelamentos barométricos. Revista Brasileira de Geografia, v.17, n.2, p.175-192, abr./jun. 1955.
  • Problemas de intervisibilidade na triangulação. Rio de Janeiro: IBGE, 1948. 26 p. (Publicação n.2, série C, Manuais).
  • Tábuas para o cálculo mecânico de posições geodésicas. Rio de Janeiro: IBGE, 1948. 67 p.

Arquivo pessoal 

Duas instituições importantes possuem arquivos pessoais do cientista, engenheiro e professor Allyrio Hugueney de Mattos: o acervo de Arquivos Históricos do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da UNICAMP — CLE/Unicamp e o Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins — MAST.

CLE/Unicamp — Arquivo Histórico Allyrio Hugueney de Mattos

O arquivo pessoal de Allyrio Hugueney de Mattos que está sob a guarda do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência foi cedido, em comodato, por sua filha a professora Leda Mattos dos Reis, conforme contrato firmado entre esta e a UNICAMP. A coleção – documentos esparsos alheios ao próprio arquivo formado pelo titular – está inventariada e os documentos impressos referenciados.

Arquivo de História da Ciência do MAST — Arquivo Allyrio de Mattos

A Coordenação de Documentação e Arquivo do Museu de Astronomia e Ciências Afins — MAST, visando à preservação de arquivos pessoais na área de ciência e tecnologia, mantém organizado o Arquivo Allyrio de Mattos. O acervo possui principalmente documentos textuais e impressos que registram a trajetória deste cientista, engenheiro e professor. O Inventário dos documentos textuais, iconográficos e impressos desse acervo está disponível para download gratuito.