Em 1907, José Luiz Sayão de Bulhões Carvalho (1866-1940) assumia o comando da Diretoria Geral de Estatística – DGE. Segundo Teixeira de Freitas, ele “preconizou e ensaiou todas as realizações que o plano do nosso Instituto sistematizou”, e o dizia, sempre emocionado, o “mestre querido de todos nós, nosso modelo, nosso guia, nosso oráculo”. Por isso, e por tudo que representou para as estatísticas brasileiras, o IBGE declarou 2007 o “Ano Bulhões Carvalho da Estatística Brasileira”. Assim, ao longo daquele ano, o Instituto o recordou em diferentes ocasiões e formas. Encerrando as lembranças desse centenário, foi realizado o Seminário Bulhões Carvalho, com o lançamento do 11º volume da Série Memória Institucional, chamado “Bulhões Carvalho: um médico cuidando da estatística brasileira”.
Médico, demógrafo-sanitarista, Bulhões Carvalho entrou no serviço público em 1892, aos 22 anos, e só aos 65 anos se retirou. Mas não deixou de refletir a atividade estatística, e em 1933 editou o manual Estatística: methodo e applicação, de valor ainda hoje.
Em 1906 atuou no Censo do Distrito Federal, sob a direção de Aureliano Portugal, também médico e demógrafo-sanitarista, e o comando de Pereira Passos. Daí, em boa medida, veio-lhe a régua e o compasso com que executou o Censo de 1920, a primeira operação censitária de sucesso na primeira República, e que teria destaque na Exposição Universal Comemorativa do Centenário da Independência, merecendo um pavilhão especial, o chamado, popularmente, “Pavilhão da Ciência da Certeza”. Além dessa glória, à frente da Diretoria Geral de Estatística, como afirmou Teixeira de Freitas, foi genial, e promoveu uma revolução na atividade estatística brasileira, logo fixada na história do IBGE.
Antes disso, atuou na Inspetoria Geral de Higiene Pública, no Instituto Sanitário Federal e na Diretoria Geral de Saúde Pública, quando esteve ao lado de figuras notáveis, entre vários, Oswaldo Cruz. Sempre atuando em demografia, sendo usuário crítico das estatísticas do registro civil, habilitou-se a promover mudanças nessa que foi, e é, uma fonte-chave das estatísticas do movimento da população. Dominava o cotidiano do diretor geral da DGE e, pese os muitos esforços, quase nunca se atendia aos desejos dos usuários. Pois ele foi criativo também nessa seara, e deixou marca do novo, da transformação modernizadora.
Em 1939, sob a égide do IBGE, entre outras razões, em que sua trajetória é abundante em exemplos, ao se tornar membro vitalício do International Statistical Institute – ISI, recebeu do Conselho Nacional de Estatística o título de grande benemerência de “Fundador da Estatística Geral Brasileira”.